Toda menina é uma princesa e todo menino é um rei

A brincadeira sempre foi uma prática incentivada na maioria das sociedades contemporâneas. Através dos jogos dramáticos, por exemplo, muito comuns nas brincadeiras infantis, a criança explora o meio em que vive, experimentando e internalizando regras e papéis típicos da vida em sociedade. Além do que, ao brincar, elas acabam estimulando o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, como atenção, memória, controle da conduta e experimentando a interação entre os pares, a resolução de conflitos, abrindo caminho para a formação de um cidadão crítico e reflexivo.
A criança, ao brincar, coloca o mundo de cabeça para baixo, subverte papéis, cria e constrói. Segundo Benjamin (2002), ela faz construções sofisticadas da realidade e desenvolve seu potencial criativo, transforma a função dos objetos para atender seus desejos. Assim, um pedaço de madeira pode virar um cavalo; com areia, ela faz bolos, doces para sua festa de aniversário imaginária; e, ainda, cadeiras se transformam em trem…
Quão incrível é esta capacidade que as crianças possuem e que, nós adultos, deixamos escapar pelas mãos conforme vamos crescendo. Eu, como artesã, que busca manter o espírito da criança que um dia fui, sempre aceso dentro de mim, fico triste quando me deparo com pessoas que olham para um trabalho artístico com um olhar tão limitado: “Elefante azul? Não pode não. Leoa com juba? Não existe não senhora. Passarinho cor de rosa? Muito menos”. Eu me sinto como Exupèrry, ao mostrar seus desenhos da jiboia engolindo um elefante para os adultos e recebendo sempre a mesma resposta: “isso é um chapeu”.
Acho que quando trabalhamos com e para crianças, precisamos aprender com elas a subverter as coisas e a virar o mundo de pernas para o ar. De vez em quando é bom. E, para entrar na brincadeira de fazer de conta, trago para vocês o molde de um dos objetos que sempre fizeram parte do maravilhoso e encantador imaginário infantil, afinal de contas, como dizia o personagem de um antigo filme da minha infância: “Toda menina é uma princesa”. E, completo eu, com a música do Roberto ribeiro: “Todo menino é um rei”.